terça-feira, 10 de maio de 2011

RELIGIÃO CRISTÃ E CIÊNCIA

Quando me refiro à religião cristã, falo das tradições religiosas históricas que envolvem a idéia de cristianismo, isto é, o catolicismo romano, os ortodoxos e o protestantismo. As influências de pensadores europeus e americanos nas estruturas de pensamento religioso sob a ótica cristã tem sido bastante perceptível quando se fala em reinterpretar as escrituras considerando as descobertas (?) cientificas.
Poderíamos apontar dentro da teologia variadas formas de reinterpretação na tentativa de conciliar os relatos bíblicos sobre determinados fatos (a criação, por exemplo) com as afirmações presentes nas ciências humanas e da natureza. Assim, na teologia cristã histórica ou mais precisamente nas idéias de pensadores cristãos. Temos como exemplo do que relatamos agora os modelos do tipo “criacionismo intermediário” e o “criacionismo fundamentalista cientifico”.
No criacionismo intermediário está precisamente contida a idéia de união entre pensamento religioso com as ciências. Apresenta um conteúdo fortemente filosófico e cientifico considerando aspectos éticos ou elementos divinos que não entrem em choque com as ciências. A questão de dogmas pode ser relativizada ou flexibilizada de acordo com as conveniências. Um exemplo clássico dessa reinterpretação teológica se aplica à questão do dilúvio (universal ou local?).
O criacionismo fundamentalista cientifico procura resgatar a ortodoxia religiosa unindo os relatos bíblicos às descobertas cientificas colocando essas descobertas abaixo dos relatos bíblicos. Nesse caso, por exemplo, tenta validar a idéia de uma terra jovem com base nos métodos de datação utilizados pelas ciências.
Aqueles que têm poucas objeções à teoria da evolução ou mesmo não tendo qualquer objeção a essa teoria e que, no entanto mantém sua crença de que por trás da ordem existente no universo está uma mente inteligente, um ser sobrenatural, são chamados de evolucionistas teistas. Também deve ser dito aqui que o criacionismo puro, aquela forma de interpretação biblica sem qualquer pretensão cientifica permanece ativo nas mentes das pessoas é a tradição religiosa que se impõe ou as verdades da fé judaico-cristãs na sua forma mais primitivas.
Postado por DAVID LIMA 1975

RELIGIÃO E TEOLOGIA

Num primeiro momento, observando o titulo acima, pode-se perceber que há a pretensão de caracterizar cada uma das expressões desse titulo, ou talvez muitos considerem um e outro como a mesma coisa. Naturalmente religião envolve teologia(s) e teologia envolve religião(ões), porém, tentaremos diferenciar a religião ou as ciências da religião da teologia.
Teologia aborda um campo especifico de estudo dentro de uma tradição religiosa. Desse modo podemos falar de teologia cristã e de teologias especificas na tradição cristã como a teologia católica romana, a teologia ortodoxa ou a teologia protestante. Poderíamos ainda ser mais específicos mencionando particularidades inclusas nessas teologias como a teologia da libertação, a teologia neo-ortodoxa, a teologia liberal, a teologia existencial, a teologia reformada, a teologia pentecostal ou neopentecostal. Podemos também fazer referência à teologia umbandista, à teologia budista, taoista, xintoísta, islâmica, judaica ou hindu.
Se falarmos em ciências da religião, teremos um alcance mais abrangente. Não seremos tão específicos na tentativa de compreender esta ou aquela teologia, mas, as teologias das religiões, sua história, seus símbolos e outros aspectos como um único objeto de estudo. Faríamos o estudo cientifico do fenômeno religioso enquanto característica do homem desde os tempos mais remotos até o presente. Analisaríamos a religião sob a ótica filosófica, sociológica, histórica e psicológica abordando questões como a tradição, a sociedade sob influência da religião, o conjunto de costumes, a cosmologia dos diferentes grupos religiosos ou a cosmovisão, os conflitos resultantes, e é claro, as perspectivas do fato religioso.
De uma outra maneira poderíamos encarar a religião como fator de ligação ou religação a algo ou alguém, assim temos a religião com uma visão de passado, presente e futuro. As religiões encaram essa religação como um fato subjetivo (pessoal) que pode ser inclusivista (geral) ou exclusivista (restrito). Usando como exemplo o cristianismo, pode-se perceber sua tendência exclusivista, isto é, a idéia de salvação ou sua possibilidade só ocorre dentro do cristianismo. Porém, essa é a opinião da maioria dos que se declaram cristãos e não da totalidade.
Essa reflexão aqui, obviamente, não tem a pretensão de um alcance extenso, rigoroso em metodologia, apenas um esclarecimento útil aos iniciantes desse estudo. Sou um profundo apaixonado pelo estudo da religião. Ela envolve fatores que são de grande inquietação aos seres humanos como, por exemplo, a questão das origens e dos acontecimentos finais, escatologicamente falando. Nossas mentes são limitadas nessa tentativa de compreensão, no entanto, considero um trabalho gratificante e apaixonante se atentarmos para a idéia de mudanças de estruturas da sociedade, de renovação, de reflexão a respeito de questões que envolvem a todos. Não tenho a intenção de dizer o que é a verdade religiosa aqui, pois para isso seriam levantadas muitas afirmações e contra-afirmações e provavelmente cairíamos no relativismo que é tão atraente às pessoas, mas, o estudo do fenômeno religioso é indispensável se pretendemos também conhecer o homem em sua história, em sociedade e as suas esperanças de felicidade.
Postado por DAVID LIMA 1975

RACIONALISMO E TEOLOGIA

Desde as revoluções de caráter social, ideológicas ou cientificas ocorridas na Europa em movimentos como a renascença e o iluminismo, sabe-se que o mundo passou por diversas transformações. A religião passa a não ser a monopolista da verdade, as ciências são valorizadas ao extremo e naturalmente o conhecimento, como formas mais seguras e indubitáveis de representação da verdade objetiva ou mesmo subjetiva, com o uso da razão.
As influências dessas mudanças de postura diante do conhecimento se aplicariam a todos os campos do saber: nas ciências da natureza, exatas e humanidades. Anteriormente em um outro texto comentamos a diversidade, a heterodoxia no pensamento dos teólogos que representam a cristandade com suas diferentes abordagens teológicas que formam uma verdadeira “torre de babel” de concepções o que gera nos leigos imensas dúvidas. Quando se diz a alguém, que estudou teologia, a primeira pergunta que fazem é: “Você acredita em Deus?” Ou fazem suas afirmações: “Aqueles que estudam ou estudaram teologia não acreditam em Deus, abandonam a fé”.
A questão aqui tratada não é exatamente o ter ou não ter fé nesse ou naquele, embora deva reconhecer que há uma ligação entre o que se acredita com as indagações ou afirmações como as que acima foram mencionadas. A chamada alta critica, influenciada pelo racionalismo tem ao longo dos últimos dois ou três séculos feito afirmações que são no mínimo pouco ortodoxas diante das tradições cristãs. Dentro da teologia cristã ela se aplica à literatura vetero-testamentária e também ao estudo neo-testamentário. Segundo o posicionamento desses intérpretes, os livros que fundamentam as crenças judaicas e cristãs são compilações bem posteriores ao que a tradição atribui, isto é, os sugeridos autores tradicionais não são seus autores, a bíblia não é a palavra de Deus, mas, contém a palavra de Deus, em outras palavras, em meio aquilo que se acredita ser divino está um simples relato humano com pretensões ideológicas, o atendimento de determinados interesses. Um exemplo de que trata essa questão, por exemplo, é a defesa da idéia de que Moisés não foi o autor dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento (Pentateuco) como a tradição costuma atribuir.
Bem, onde está contida a idéia de racionalismo nessas questões? No simples fato de que a literatura bíblica, para apresentar realmente aquilo que pode ser considerado palavra divina ou apenas humana, deve ser submetida a rigorosos métodos critico-históricos onde a razão exclusivamente dará a precisa resposta. Essa prática iria mais tarde resultar no liberalismo teológico entre os séculos XIX e XX, movimento que desejava adaptar a religião ao pensamento e à cultura moderna. O liberalismo teológico foi rejeitado pela neo-ortodoxia que procurou manter algumas bases da teologia tradicional patristica e da reforma (no caso do protestantismo) embora tenha mantido em certo grau a critica do iluminismo à ortodoxia.
Permanecem até hoje as disputas entre os adeptos de todos esses tipos de pensamento no mundo e no Brasil. As escolas de teologia (faculdades e seminários) se enquadram em alguma área de pensamento, de interpretação, sustentam um ou outro ponto de vista sobre como a teologia deve se encaminhar. As denominações religiosas cristãs podem ser fechadas teologicamente ou permissivas quanto às diferentes formas de interpretação. De qualquer modo, se considerarmos o fato de que estamos lidando com uma área humana de conhecimento, é bastante complexo em teologia uma definição do que é o certo ou o errado no conjunto dessas denominações uma vez que o subjetivismo impera no seu absolutismo.
Postado por DAVID LIMA 1975

DESABAFO DE UM PROFESSOR DE TEOLOGIA

Desabafo de um professor de Teologia
Sou um professor de Teologia em crise. Não com minha fé ou com minhas convicções, mas com a dificuldade que eu e outros colegas enfrentamos nos últimos anos diante dos novos seminaristas enviados para as faculdades de teologia evangélica. Tenho trabalhado como Professor em Seminários Evangélicos presbiterianos, batistas, da Assembléia de Deus e interdenominacionai s desde 1991 e, tristemente, observo que nunca houve safras tão fracas de vocacionados como nos últimos três anos.
No início de meu ministério docente, recordo-me que os alunos chegavam aos seminários bastante preparados biblicamente, com uma visão teológica razoavelmente ampla, com conhecimentos mínimos de história do cristianismo e com uma sede intelectual muito grande por penetrar no fascinante mundo da teologia cristã. Ultimamente, porém, aqueles que se matriculam em Seminários refletem a pobreza e mediocridade teológica que tomaram conta de nossas igrejas evangélicas.

Sempre pergunto aos calouros a respeito de suas convicções em relação ao chamado e à vocação. Pois outro dia, um calouro saiu-se com a brilhante resposta: "não passei em nenhum vestibular e comecei a sentir que Deus impedira meu acesso à universidade a fim de que eu me dedicasse ao ministério". Trata-se do mais típico caso de "certeza da vocação" adquirida na ignorância.

E, invariavelmente, esses são os alunos que mais transpiram preguiça intelectual.

A grande maioria dos novos vocacionados chega aos Seminários influenciada pelos modismos que grassam no mundo evangélico. Alguns se autodenominam "levitas". Outros, dizem que estão ali porque são vocacionados a serem "apóstolos".

Ultimamente qualquer pessoa que canta ou toca algum instrumento na igreja, se auto-denomina "levita". Tento fazê-los compreender que os levitas, na antiga aliança, não apenas cantavam e tocavam instrumentos no Templo, como também cuidavam da higiene e limpeza do altar dos sacrifícios (afinal, muito sangue era derramado várias vezes por dia), além de constituírem até mesmo uma espécie de "força policial" para manter a ordem nas celebrações. Porém, hoje em dia, para os "novos levitas" basta saber tocar três acordes e fazer algumas coreografias aeróbicas durante o louvor para se sentirem com autoridade até mesmo para mudar a ordem dos cultos.

Outros há, que se auto-intitulam "apóstolos". Dentro de alguns dias teremos também "anjos", "arcanjos", "querubins" e "serafins". No dia em que inventarem o ministério de "semi-deus" já não precisaremos mais sequer da Bíblia.

Nunca pensei que fosse escrever isso, pois as pessoas que me conhecem geralmente me chamam de "progressista" . Entretanto, ultimamente, ando é muito conservador. Na verdade, "saudosista" ou "nostálgico" seriam expressões melhores.

Tenho saudades de um tempo em que havia um encadeamento lógico nos cultos evangélicos, em que os cânticos e hinos estavam distribuídos equilibradamente na ordem do culto.

Atualmente os chamados "momentos de louvor" mais se assemelham a show ensurdecedores ou de um sentimentalismo meloso.

Pior: sobrepujam em tempo e importância a centralidade da Palavra e da Ceia nas Igrejas Protestantes. Muitas pessoas vão à Igreja muito mais por causa do "louvor" do que para ouvir a Palavra que regenera, orienta e exige de nós obediência. Dias atrás, na semana da Páscoa comentei com um grupo de alunos a respeito da liturgia das "sete palavras da cruz" que seria celebrada em minha Igreja na 6a feira da paixão. Alguns manifestaram desejo de participar. Eu os avisei então que se tratava de uma liturgia que dura, em média, uma hora e meia, durante a qual não é cantado nenhum hino (pelo menos na tradição de minha Igreja - Anglicana), mas onde lemos as Escrituras, oramos e meditamos nas sete palavras pronunciadas por Cristo durante a crucificação. Ao saberem disso, um deles disse: "se não houver música, não há culto".

Creio que, em parte, isso é reflexo da cultura pop, da influência da "Geração MTV", incapaz de perceber que Deus pode ser encontrado também na contemplação, meditação e no silêncio. Percebo também que alguns colegas pastores de outras igrejas freqüentemente manifestam a sensação de sentirem-se tolhidos e pressionados pelos diversos grupos de louvor. O mercado gospel cresceu muito em nosso país e, além de enriquecer os "artistas" e insuflar seus egos, passou a determinar até mesmo a "identidade" das igrejas evangélicas. Houve tempo em que um presbiteriano ou um batista sabiam dar razão de suas crenças.

Atualmente, tudo parece estar se diluindo numa massa disforme. Trata-se da "xuxização" ("todo mundo batendo palma agora... todo mundo tá feliz ? tá feliz!") do mundo evangélico, liderada pelos "levitas" que aprisionam ideologicamente os ministros da Palavra. O apóstolo Paulo dizia que a Palavra não está aprisionada. Mas, em nossos dias, os ministros da Palavra, estão - cativos da cultura gospel.

Tenho a impressão de que isso tudo é, em parte, reflexo de um antigo problema: o relacionamento do mundo evangélico com a cultura chamada "secular". Amedrontados com as muitas opções que o "mundo" oferece, os pais preferem ter os filhos constantemente sob a mira dos olhos aos domingos, ainda que isso implique em modificar a identidade das Igrejas. E os pastores, reféns que são dos dízimos de onde retiram seus salários, rendem-se às conveniências, no estilo dos sacerdotes do Antigo Testamento.

Um aluno disse-me que, no dia em que os evangélicos tomarem o poder no Brasil acabarão com o carnaval, as "folias de rei", os cinemas, bares, danceterias etc. Assusta-me o fato de que o desenvolvimento dessa sub-cultura "gospel" torne o mundo evangélico tão guetizado que, se um dia, realmente os evangélicos tomarem o poder na sociedade, venham a desenvolver uma espécie de "Talibã evangélico". Tal como as estátuas do Buda no Afeganistão, o "Cristo Redentor" estará com os dias contados.

Esses jovens que passam o dia ouvindo rádios gospel e lendo textos de duvidosa qualidade teológica, de repente vêm nos Seminários uma grande oportunidade de ascensão profissional e buscam em massa os seminários. Nunca houve tanta afluência de jovens nos seminários como nos últimos anos.

Em um seminário em que trabalhei (de outra denominação), os colegas diziam que a Igreja, em breve teria problemas, pois o crescimento da Igreja não era proporcional ao número de jovens que todos os anos saíam dos Seminários como bacharéis em teologia, aptos para o exercício do ministério.

A preocupação dos colegas era: onde colocar todos esses novos pastores?

Na minha ingenuidade, sugeri que seria uma grande oportunidade missionária: enviá-los para iniciarem novas comunidades em zonas rurais e na periferia das cidades. Foi então que um colega, bastante sábio, retrucou: "Eles não querem. Recusam-se! Querem as Igrejas grandes, já formadas e estabelecidas, sem problemas financeiros" .

De fato, percebi que alguns realmente se mostravam decepcionados ao saberem que teriam que começar seu ministério em um lugar pequeno, numa comunidade pobre, fazendo cultos nos lares, cantando às vezes "à capella" e sem o apoio dos amplificadores e mesas-de-som.

Na maioria dos Seminários hoje, os alunos sabem o nome de todas as bandas gospel, mas não sabem quem foi Wesley, Lutero ou Calvino.

Talvez até já tenham ouvido falar desses nomes, mas são para eles, como que personagens de um passado sem-importância e sobre o qual não vale a pena ler ou estudar.

Talvez por isso eu e outros colegas professores nos sintamos hoje em dia como que "falando para as paredes". Nem dá gosto mais preparar uma aula decente, pois na maioria das vezes temos sempre que "voltar aos rudimentos da fé" e dar aos vocacionados o leite que não recebem nas Igrejas. Várias vezes me vi tendo que mudar o rumo das aulas preparadas para falar de assuntos que antes discutíamos nas Escolas Dominicais. Não sei se isso acontece em todos os Seminários, mas em muitos lugares, o conteúdo e a profundidade dos temas discutidos pouco difere das aulas que ministrávamos na Escola Dominical para neófitos.

Sei que muitos que lerem esse desabafo, não concordarão em nada com o que eu disse. Mas não é a esses que me dirijo, e sim aos saudosistas como eu, nostálgicos de um tempo em que o cristianismo evangélico no Brasil era realmente referencial de uma religiosidade saudável, equilibrada e madura e em que a Palavra lida e proclamada valia muito mais que o último CD da moda.
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Por Carlos Eduardo Calvani
Coordenador do Centro de Estudos Anglicanos (CEA) em Londrina.

FILOSOFIA E RELIGIÃO

A INFLUÊNCIA KANTIANA
Leonardo Gonçalves (*)
A influência de Immanuel Kant na Teologia Contemporânea
A revolução teológica do século passado que ficou conhecida pelo nome de teologia existencialista ou contemporânea, tem as suas raízes nas idéias do filósofo Immanuel Kant. Embora já tenha sido mencionado na introdução, esse filósofo merece, sem nenhuma dúvida, um capítulo à parte. Kant logrou sistematizar a confiança do homem moderno na capacidade da razão para tratar de tudo o que diz respeito ao mundo material, e sua incapacidade para ocupar-se de tudo o que está além do nosso mundo. Ao fazer isso, Kant não se projetou apenas sobre o século dezenove, mas também sobre o século vinte.
2.1– Um novo conjunto de pressupostos religiosos para o homem moderno.
O mundo grego havia elaborado algumas normas religiosas básicas em torno do paradoxo entre a forma e a matéria. Na idade média, o homem do ocidente havia assimilado algumas dessas idéias, reorganizando-as em torno do conceito de natureza e graça. De certa forma, a síntese de Tomás de Aquino era de origem pagã e aristotélica, e privava a graça de seu caráter puramente cristão, fazendo dela um elemento aperfeiçoador da superestrutura, ao invés de ser um ato transformador de Deus.
Kant e sua idéia de autonomia fizeram dessa privação da graça mais que uma simples moldura teológica: pela primeira vez na história da civilização ocidental, a natureza foi separada da graça de forma elaborada, conseqüente e consciente. No pensamento do homem moderno, a graça foi suplantada pela idéia de emancipação; o homem tinha que nascer de novo como pessoa completamente livre e autônoma, emancipada de qualquer pensamento preconizado. De acordo com essa nova maneira de pensar, até mesmo o conceito de natureza – conservado da síntese medieval aquiniana – se transformou, passando a ser uma esfera micro-cósmica dentro da qual a personalidade humana podia exercer sua autonomia. A natureza era agora interpretada como um terreno infinito que o pensamento matemático autônomo devia controlar.
A história do pensamento e da teologia ocidental desde Kant nos mostra como esses pressupostos religiosos, trabalhando com idéias tomadas do cristianismo, modelaram uma nova teologia e um novo mundo.
2.2- A autonomia do homem e sua influência no pensamento religioso moderno.
A autonomia preconizada por Kant, isto é, a emancipação de valores exteriores, produziu uma avaliação muito elevada da capacidade humana, sobretudo da razão humana como autoridade final e como crivo para a verdade. A razão, e somente a razão, poderia julgar o mundo do fenômeno e o mundo do número. Para Kant, essa autonomia representava a substituição do conceito de revelação do cristão – que tem sua expressão máxima em Cristo e na Bíblia – pela razão autônoma do homem. Em um sentido ulterior, Kant entroniza a razão como sendo o princípio supremo. A verdadeira religião, na filosofia kantiana, não consiste em conhecer o que Deus tem feito para a nossa salvação, e sim em conhecer o que devemos fazer para chegarmos a ser dignos dela. Essa moralidade religiosa, segundo Kant, pode ser alcançada sem a necessidade de nenhum aprendizado bíblico.
Não há muita distância entre esse pensamento de Kant e o pensamento posterior dos teólogos contemporâneos, tal como em Bultmann e sua idéia de desmitologização, nem está longe da idéia da razão autônoma como juíza da revelação na análise racional de Pannenberg, que apresenta os relatos da ressurreição como estando contaminados de lendas, nem da negativa de Cullmann de considerar os relatos da criação de Gênesis como história autêntica.
2.3- O relativismo de David Hume e sua influência na filosofia kantiana.
David Hume, filósofo escocês, havia lançado dúvida em quanto à possibilidade de alguém provar alguma coisa, tanto dentro como fora de si mesmo. Causa e efeito, Deus como origem de todas as coisas, o homem como ser contingente, tudo isso era para ele completamente evasivo. Segundo ele, não conhecemos a coisa em si, mas apenas aquele conhecimento que os sentidos nos proporcionam.
Kant tomou emprestado de Hume o problema do conhecimento proposto por ele e o reformulou, como se isso fosse pudesse resolver o problema epistemológico. Kant criou dois mundos, à saber, o mundo dos fenômenos e o mundo dos números, sendo um percebido pela razão e pelos sentidos, e o outro, o mundo de Deus, da imortalidade, da liberdade e das idéias reguladoras que a razão não pode explicar, mas que devem ocupar um lugar na vida como se fossem objetos reais ao alcance da razão.
O efeito de tudo isso foi em parte, devastador. Kant, ao colocar Deus em um outro mundo, o aprisionou com um muro à prova de som; seu único vínculo com o mundo dos fenômenos se daria por meio da necessidade que o homem tem da idéia de Deus para o seu mundo ético. Com isso, Kant não fechou totalmente a porta do nosso mundo para Deus, mas a diminuiu de tal forma que o Deus soberano, cujas vestes enchiam o templo (Isaías 6.1), não pode entrar. Da mesma forma, uma vez que o homem não pode perceber as coisas como são na realidade – tanto no mundo dos fenômenos como no mundo dos números – não pode introduzir-se por essa porta para conhecer a Deus. Ele ficou isolado no mundo dos fenômenos e Deus no mundo numeral.
2.4- O confinamento de Deus na teologia contemporânea.
Esse confinamento de Deus no mundo dos números é o tema favorito da teologia contemporânea. Tal confinamento se reforça com a insistência crescente do existencialismo na liberdade, e reaparece de forma modificada nos primeiros escritos de Karl Barth acerca de Deus como “Totalmente Outro”, como “Aquele que não pode ser explicado como se explica um objeto”. Ele reaparece na divisão neo-ortodoxa entre História e Geschichte, na diferenciação de Bultmann entre o Jesus histórico e o Cristo kerigmático, ou, usando uma linguagem kantiana, entre o Jesus fenomenal e o Cristo numenal. Esse confinamento do mundo espiritual é o fator preponderante da insistência contemporânea na “humanidade” da Bíblia e da definição barthiana de revelação como sendo o encontro divino-humano, o numeral que toca o fenomenal, porém, sem entrar nele. Ele também produz em Moltmann uma teologia da esperança, completamente cética quanto a qualquer fim escatológico na história fenomenal, ainda que capaz de falar de um futuro numenal. Nesse ínterim, quase ninguém se atreve a buscar o Jesus histórico; ele é simplesmente irrelevante.
2.5- As idéias deístas presentes na filosofia da emancipação e sua influencia na teologia contemporânea.
O conceito deísta que fez parte do processo de florescimento da autonomia não dava nenhum lugar à intervenção divina na criação por meio de algo sobrenatural e revelador. Da mesma forma, a autonomia do método sobre o texto bíblico estabeleceu certos pressupostos que o método histórico-crítico ainda mantém, como o abandono da doutrina da inspiração verbal. Começa-se então a fazer distinção entre a Palavra de Deus e a Bíblia, e junto com o pressuposto metodológico, ressurge a idéia de que há erros na Bíblia e que esta deve ser tratada como qualquer conjunto de documentos do passado.
Essa idéia de humanização da Bíblia veio a ser uma das características distintivas da crítica bíblica, quer seja em sua forma mais conservadora (como se encontra em Oscar Cullmann e Wolfhart Pannenberg), ou em suas expressões mais radicais (como em Paul Tillich, John Robinson e nos teólogos seculares). Também Barth e Bultmman, apesar de todo o seu debate interno, seguem unidos no emprego dessa metodologia.
2.6- Uma separação radical entre história e fé.
A divisão entre história e fé também se tornou mais tarde um pressuposto da teologia contemporânea. O Jesus histórico parecia cada vez mais distante do Cristo da fé. Acerca desse impasse, G.E. Lessing afirmou que “o verdadeiro valor de qualquer religião não depende da história, senão de sua capacidade de transformar a vida através do amor”. Os teólogos contemporâneos apresentam repetidas vezes essa dissociação do Jesus histórico e do Jesus da fé, afirmando que ainda que a história escrita do cristianismo não se possa aceitar, o ensino de Cristo pode e deve ser aceito. A historicidade da Bíblia parece menos importante que aquilo que ela diz. Barth fará isso ao ser indagado sobre se a serpente realmente falou no jardim do Édem, dizendo que isso não tem a menor importância diante do que a serpente disse. Bultmann fará o mesmo ao rejeitar os relatos evangélicos como sendo produtos historicamente duvidosos por um lado, e aceitando-os, por outro lado, por causa da sua compreensão existencial do “Eu”. Moltmann o utilizará ao burlar-se da noção clássica de escatologia cumprindo-se na história, e ao mesmo tempo falará sobre a igreja orientada para o futuro. Também John Robinson, ao mesmo tempo em que rejeita a idéia de céu como sendo um “lugar lá em cima”, fala de uma nova dimensão de vida como ser em profundidade, e de Deus como o Fundamento do ser.
Não há duvida de que Immanuel Kant teve grande influência sobre o pensamento teológico contemporâneo. Na verdade, desde Kant que a história do pensamento e da teologia ocidental é a história de como seus pressupostos religiosos, associados a muitas idéias cristãs, deram origem a um mundo novo. Embora sua filosofia encarasse com valentia as questões pleiteadas por Hume, ele enclausurou os seres humanos no mundo dos fenômenos, não havendo modo da mente fenomenal conhecer o numeral. Entre tantas objeções que se pode fazer a Kant, uma é a mais óbvia: Se o nosso entendimento acerca de Deus não é ao menos alegórico, como pode o homem conhecer a Deus? A filosofia de Kant transforma Deus em um ser incognoscível, e esse pressuposto será um grande dilema para a teologia dialética de Karl Bath, bem como de outros teólogos contemporâneos.
(*)Fonte: http://teologiacontemporanea.wordpress.com/

POLÊMICA

Ex-pastor e professor de Teologia, diz: que o protestantismo faliu!
25.02.2007 - O movimento evangélico cristão é hoje uma instituição falida oriunda do paganismo e a palavra pastor, com exceção de uma minoria, possui o sinônimo de corrupção, considerando a legislação brasileira. A declaração é do ex-pastor e professor de Teologia, Ridalvo Alves, um dos fundadores do Encontro Para a Consciência Cristã, que durante o período de carnaval reúne evangélicos de todo o Brasil em Campina Grande. Ele se diz “decepcionado com o pastorado”.

Para o ex-reverendo, as prisões do pastor Estevam Hernandes Filho e da bispa Sônia Haddad Morais Hernandes, da Igreja Renascer, são o resultado de um pequeno reflexo da realidade no meio evangélico atual. No entendimento de Ridalvo, isto está acontecendo porque o cristianismo não tem embasamento bíblico fundamentado nos originais da palavra de Deus, segundo o contexto judaico, o que está levando seus membros a desvios de conduta.

Ridalvo ressaltou que alguns pastores têm se envolvido com a prostituição, a usura, a sonegação de impostos, o homossexualismo e até a perda da fé, o que tem levado muitas pessoas a se desviar da religião por caminhos alheios à vontade de Deus. Ridalvo assegura que o protestantismo é de cunho ocidental e, portanto, pagão, que se universalizou pelo imperador romano Constantino.

Outro agravante que acentua a crise no meio evangélico, de acordo com Alves, é o procedimento de formação dos líderes nas igrejas. Ele ressaltou que o título de pastor deveria ser dado a uma pessoa com, no mínimo, quatro anos de estudos em seminário teológico, o que não tem acontecido. Ele asseverou que “existem pessoas se dizendo pastores com cursos locais de, no máximo, seis meses ou um ano, sendo que alguns nem instrução têm. Essas pessoas têm declarado ter recebido unção e revelação de Deus para pregar a sua palavra, completamente leigas do assunto”.

Em sua maioria, segundo Ridalvo, não existe qualquer interesse pela palavra de Deus, mas intuito financeiro ou político. Em Campina Grande, por exemplo, segundo ele, muitos dos líderes religiosos estão ministrando em igrejas por conta dos salários a eles pagos, enquanto outros estão atrelados a políticos em troca de barganha, tais como: cargos públicos, favores e outros, e tudo isso tem fomentado uma proliferação de igrejas de fundo de quintal na cidade, nas quais os seus ministros não têm autoridade para transmitir a palavra de Deus.

“Eu convido os pastores sinceros do meio evangélico a fazer uma reflexão sobre o cristianismo, sobre o fundamento da igreja. É preciso que eles vejam o paganismo, no qual estão envolvidos. Algumas pessoas pensam que evangelho e evangélico são da mesma essência, mas não são. O evangelho é correto, está dentro do contexto bíblico, mas o evangélico tem contexto grego-pagão e nós podemos provar isso. O protestantismo é uma questão histórica ligada a Martin Lutero, na Alemanha, primeiro de natureza política e depois religiosa. Analisando este contexto teológico, eu larguei o protestantismo” afirmou.

Fonte: WSCOM Online

A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO ATÉ O 3º SÉCULO

Considera-se tanto no estudo da filosofia como em teologia que o judaísmo vivenciava uma crise profunda em sua organicidade. Uma percepção fria desse assunto pode ser vista na própria estrutura ideológica e sectária do judaísmo que antes e durante o período apostólico encontrava-se dividido em diversos grupos.
No contexto histórico do surgimento do cristianismo, a dominação romana se fazia presente à palestina tanto quanto em outras regiões da Europa e África e esse domínio sobre os judeus teria seu clímax por volta do ano 70 d.C.,quando os judeus seriam espalhados pelo mundo no episódio denominado “diáspora”.Esse acontecimento também serviria aos propósitos apostólicos de expansão dos ideais cristãos.
Em seu surgimento, o cristianismo deveria ser , tanto no propósito de seu fundador como de seus discípulos,a absoluta verdade,teórica e prática.A narrativa inicial existente no evangelho de João é que o Cristo, o verbo divino,se encarnou e que esse verbo se tornou um homem como os demais,capaz de vivenciar as mesmas circunstâncias dos demais e necessariamente sobrepô-las.
Acredita-se que a grande expansão do cristianismo pelas localidades não judaicas deva-se ao apóstolo Paulo que também é chamado de “apóstolo dos gentios”.Inicialmente o cristianismo esteve localizado no seu próprio berço,em Israel,para então depois ser projetado pelas demais localidades.Os apóstolos vivenciaram em seu inicio uma pequena crise de ordem doutrinária em que tiveram que lidar com a questão dos judaizantes,isto é,judeus convertidos ao cristianismo e que sustentavam a necessidade de obediência e observação à lei mosaica.Paulo teve um confronto direto com esse grupo e necessitou chamar a atenção de seus companheiros pra essa questão e nesse contexto ocorreu o concilio de Jerusalém,o primeiro da história do cristianismo.
Com a projeção para o mundo, a nova religião tem no ex-integrante do judaísmo(Paulo),um fervoroso divulgador da nova mensagem.Um homem considerado de excelente formação,conhecedor da tradição judaica e da filosofia grega.Esse apóstolo é considerado um apologista no sentido mais completo do termo,tanto pelo combate às idéias pagãs como as heresias internas da nova religião e isso pode ser visto na leitura de suas cartas pastorais.
Ainda no período apostólico (final) tem inicio a fase de perseguição aos cristãos pelo poder estabelecido que considera-os deturpadores da ordem e dos costumes.Os mártires da igreja são os heróis e aceitam os castigos em nome de sua fé e a garantia de uma ressurreição futura e justiça divina.estas perseguições são mantidas durantes os próximos dois séculos após a morte dos apóstolos com maior ou menor intensidade.
A partir do segundo século teve inicio as diversas formulações teológicas que seriam os fundamentos da nova religião até então, dogmas não estabelecidos de maneira precisa e

tão absoluta como é próprio das religiões. É um período de grandes debates sobre as mais variadas temáticas filosófico-teológicas em relação à pessoa de cristo, a soteriologia, a natureza humana e a idéia de pecado, dentre outras temáticas. Esses debates e combates aos diversos pensamentos serão feitos pelos denominados padres da igreja ou pais da igreja que estão ora ligados à igreja do ocidente, ora à do oriente. Esses pais fazem um trabalho de combate aos ataques pagãos bem como à novas idéias surgidas entre os próprios cristãos,sendo que nos concílios serão definidos os dogmas ou verdades absolutas da revelação cristã.
Antes de suas conversões ao cristianismo, esses pais eram ligados a alguma escola filosófica e seus conhecimentos sobre a filosofia seriam usados de diferentes maneiras no apoio à divulgação das verdades de fé tendo-se o cuidado de mostrar o aspecto racional dessas verdades aceitas por revelação. Tais pensadores receberam influências diversas das escolas clássicas de filosofia como o platonismo, o aristotelismo, o neoplatonismo, os cépticos, os epicuristas, o estoicismo e outras heranças da cultura helênica.
A religião cristã superaria essa fase de perseguições e martírios após o terceiro século com a permissão de sua prática pelo império romano e posteriormente iria tornar-se a religião oficial do estado (final do século IV) e se manteria assim, superando a fragmentação do império romano do ocidente. Um pouco antes disso, já se apresentava a supremacia ou a pretensão de supremacia do bispo de Roma sobre os demais bispados e a definitiva instalação do papado como chefia visível da Igreja.
Sobrevivendo ao antigo império, agora inexistente,o cristianismo se estabelece pelos séculos posteriores no ocidente e com divergências em relação ao oriente o que iria determinar no futuro a primeira divisão do cristianismo, no chamado “cisma do oriente.”

DAVID LIMA